A greve dos caminhoneiros parou o Brasil. Estamos indo para o 9o. dia de greve e os rumos da mesma ainda são incertos. O governo já fez sua proposta e a mesma foi bem aceita pela principal liderança do movimento. Porém, notícias chegam de todos os pontos do Brasil dizendo que ainda há paralisação em diversas estradas do país. O fato mais marcante para o investidor é que a bolsa de valores está precificando os prejuízos que as empresas terão. Só neste mês de maio o índice IBOV já caiu 13%. A pergunta que surge agora é: está na hora de comprar ações? Se sim, quais ações comprar?
A decisão de compra de uma ação é algo que leva em consideração diversas variáveis, tanto do ponto de vista macroeconômico quanto do ponto de vista micro. Do ponto de vista macro, estamos vendo um país fragilizado pela crise do frete gerada pela greve dos caminhoneiros. Há que se considerar também que estamos em um ano eleitoral e o futuro do país estará nas mãos dos eleitores que nem sempre sabem escolher seus representantes. Do ponto de vista micro, é necessário analisar os fundamentos das empresas e as perspectivas setoriais no médio e longo prazo. Alguns critérios básicos são bons indicativos de que uma empresa é candidata para investimento:
1 – Boa geração de caixa: A geração de caixa de uma empresa pode ter várias origens, a começar pela mais natural e esperada, que se dá através da sua atividade principal, vendendo produtos e gerando receitas. Além disso, é possível gerar caixa via operações não recorrentes, como venda de ativos, aumento de capital via subscrição de novas ações, recebimento de dividendos de empresas nas quais possui participações, dentre outras possibilidades. Empresas boas para investir devem possuir uma forte geração de receita recorrente através da venda dos seus produtos e serviços, em outras palavras, devem possuir altos lucros.
2 – Baixo endividamento: Via de regra, as empresas se endividam para poderem executar projetos de expansão. Porém, o pagamento dos juros da dívida e não deve comprometer os lucros e a empresa deve ter capacidade para honrar suas dívidas de longo prazo com os lucros futuros. A alavancagem da empresa deve ser saudável e compatível com seu patrimônio e geração de caixa.
3 – Margens de lucros elevadas: Em contabilidade de empresas, o termo “margem” exprime a relação entre o lucro e a receita obtidos pela empresa em um dado período. O indicador mais comum é a margem líquida que representa o lucro líquido que a empresa obtém para cada real em receita líquida. Essa margem ilustra a quantidade de dinheiro que a empresa lucra a cada real de receita obtido depois de pagar todas as suas despesas e impostos. Numa análise simplória, quanto maior a margem de lucro da empresa mais seguro e rentável é o negócio.
4 – Boa previsibilidade de fluxos de caixa: Aqui estamos falando de uma “quase certeza” de que os produtos e serviços da empresa continuarão serem vendidos no mercado sem sobressaltos. Faça chuva ou faça sol, os lucros continuaram consistentes e até crescentes. Isto pode ser alcançado, por exemplo, por empresas localizadas em setores não cíclicos como o de transmissão de energia elétrica.
5 – Barreiras de entrada no negócio: Sabemos que no mercado a concorrência é feroz. Não basta ter um bom produto ou prestar um bom serviço, se surgir uma outra empresa com o mesmo nível de qualidade e oferecendo produtos com preços mais atrativos já é suficiente para ocorrer quedas nas vendas e no faturamento. Portanto, para não haver grandes ameaças aos lucros futuros, a escolha de empresas que atuam em mercados onde há barreiras de entrada é um fator a ser considerado na análise.
O Fator Preço
O fator “preço” da ação ainda gera polêmica entre os investidores. Muitos acreditam que preço não importa, para eles, o importante é escolher ações com bons fundamentos e comprá-las independentemente do preço do papel. A outra corrente diz que o preço da ação deve ser analisado antes de compra. Se a ação estiver cara então não se deve comprar. Se estiver barata então deve-se comprar muito. Mas aí surge uma grande questão: o que é uma ação barata? Para responder esta pergunta, existe uma disciplina em finanças chamada valuation.
Valuation é o termo em inglês para “Avaliação de Empresas”. É o processo de estimar quanto uma empresa vale, determinando seu preço justo e o retorno de um investimento em suas ações. Existem diversas formas de avaliação, sendo as mais comuns o valor dos ativos, o valor presente do fluxo de caixa futuro, ou o valor dos múltiplos da empresa. Valuation é o processo de estimar o valor de uma empresa de forma sistematizada, usando um modelo quantitativo. Mas, mesmo assim, envolve certa dose de subjetividade no julgamento ao definir premissas e selecionar fontes de dados. Por isso, a confiabilidade do resultado depende da percepção do mercado e da lógica embutida na análise.
Mas o objetivo deste post não é ensinar a técnica de valuation, mesmo porque isto renderia um livro. Farei aqui apenas uma exposição do desempenho histórico de algumas ações da bolsa de valores brasileira, comparando-as com o próprio desempenho do índice. Ou seja, conheceremos quais empresas tiveram desempenho superior e inferior à média do mercado. Mas isto não quer dizer nada, há uma velha máxima do mercado que diz: “passado não garante futuro”. Portanto, não tire conclusões precipitadas.
Ótimo post! Gostei bastante dos critérios utilizados para saber se uma ação é boa.
Abraço e bons investimentos.