A importância da poupança para você e o país…

Vale a pena manter dinheiro na poupança? Poupança é investimento? Quais são as vantagens reais de poupar dinheiro?

Se você é um leitor atento já deve ter se deparado com a afirmação de que “poupança não é investimento”. Mas ao contrário do que muitos dizem, poupança é investimento sim. Contudo, explicaremos o conceito em um sentido mais amplo.

O Tempo Passa, O Tempo Voa…

A caderneta de poupança está na memória coletiva do brasileiro. Quem é mais antigo irá lembrar deste comercial que foi muito exibido nos televisores Telefunken da casa dos seus pais…

O tempo passa, o tempo voa, e a poupança Bamerindus continua numa boa…

O brasileiro é um povo muito criativo, talvez não por vocação mas sim por necessidade. E toda esta criatividade pode ser notada através de comerciais deste tipo que ficam impregnados na nossa memória. O banco Bamerindus não existe mais. Entrou em dificuldades financeiras em 1994 sendo incorporado pelo HSBC e pelo Banco Central em 1997. Mas a poupança… esta continua numa boa. Mesmo com altos e baixos nos últimos anos esta aplicação ainda continua sendo muito utilizada pelos cidadãos.

A poupança em banco como conhecemos hoje, chegou ao Brasil em 1861 com a criação da Caixa Econômica Federal pelo então imperador D. Pedro II. O objetivo inicial era receber pequenas quantias das classes menos abastadas, com a garantia do Governo e juros de 6% ao ano. Ao longo das últimas décadas pouca coisa mudou, a poupança continua sendo a aplicação financeira mais simples que existe. A maioria dos bancos oferece, não tem impostos sobre os rendimentos e a liquidez diária.

Veja como declarar poupança no imposto de renda.

Uma poupança pode ser aberta por qualquer pessoa que tenha CPF, ou por menores de 16 anos junto com o responsável. Os recursos depositados na poupança são garantidos pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito), até o valor de R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira. Assim, se uma única pessoa tem, em um mesmo banco, conta-corrente, conta-poupança e outra aplicação financeira, por exemplo, a cobertura global dos três produtos será de 250 mil reais em caso de quebra do banco.

Rendimento da Poupança

O rendimento da poupança é mensal, isto é, cada aplicação realizada só rende uma vez por mês, sempre no dia em que o dinheiro foi aplicado (o chamado “aniversário”). Se alguém aplicar no dia 5 de um mês, o valor aplicado permanece o mesmo até o dia 4 do mês seguinte, e só no dia 5 ele é acrescido do rendimento mensal. Com isso, se o poupador resgatar o dinheiro antes do aniversário, não recebe a remuneração referente àquele mês. Portanto, programe seus resgates de olho nos aniversários.

As regras de rendimento da poupança atuais são definidas pelo Banco Central. De acordo com a legislação atual, a remuneração dos depósitos de poupança é composta de duas parcelas:

I – a remuneração básica, dada pela Taxa Referencial – TR, e

II – a remuneração adicional, correspondente a:

a) 0,5% ao mês, enquanto a meta da taxa Selic ao ano for superior a 8,5%; ou

b) 70% da meta da taxa Selic ao ano, mensalizada, vigente na data de início do período de rendimento, enquanto a meta da taxa Selic ao ano for igual ou inferior a 8,5%.

A remuneração dos depósitos de poupança é calculada sobre o menor saldo de cada período de rendimento. O período de rendimento é o mês corrido, a partir da data de aniversário da conta de depósito de poupança, para os depósitos de pessoas físicas e de entidades sem fins lucrativos. Para os demais depósitos, o período de rendimento é o trimestre corrido, também contado a partir da data de aniversário da conta.

A data de aniversário da conta de depósito de poupança é o dia do mês de sua abertura. Considera-se a data de aniversário das contas abertas nos dias 29, 30 e 31 como o dia 1° do mês seguinte. A remuneração dos depósitos de poupança é creditada ao final de cada período de rendimento, ou seja:

I – mensalmente, na data de aniversário da conta, para os depósitos de pessoa física e de entidades sem fins lucrativos; e

II – trimestralmente, na data de aniversário no último mês do trimestre, para os demais depósitos.

Para os depósitos feitos antes de 3 de maio de 2012, o rendimento continua sendo o antigo, de 0,5% ao mês (ou 6,17% ao ano), mais a variação da TR (Taxa Referencial, calculada e divulgada diariamente pelo Banco Central).

Importância da Poupança

Quando se fala em “poupança” logo pensamos na velha e boa caderneta de poupança, mas este conceito deve ser visto de uma forma mais ampla. Hoje temos no mercado diversos instrumentos para aplicação de recursos financeiros que vão desde títulos públicos a ações de empresas listadas em bolsa. Poupar nada mais é do que reservar um pouco do que se tem hoje para usar no futuro. É uma forma de dormir tranquilo, deitar sobre um colchão de dinheiro lhe proporcionará noites muito mais agradáveis.

Apesar da maioria das pessoas saberem que poupar é um ato saudável e importantíssimo na vida de qualquer um, poucas pessoas possuem este hábito consolidado no seu dia-a-dia. Os argumentos são os mais diversos: estou endividado momento, ganho pouco e não sobra nada, a vida é para ser vivida, não quero ser o defunto mais rico do cemitério, dentre outros. Em todos estes argumentos há um pouco de autoenganação e uma certa dificuldade para comer os marshmallows um pouco mais adiante.

Importância da Poupança para Você!

Que ter dinheiro guardado é importante todo mundo sabe, nem preciso escrever aqui os motivos, mas por que quase ninguém tem poupança? Onde está a real dificuldade de se guardar dinheiro? Alguns dizem que o brasileiro é como aquele cachorro que tem medo de linguiça porque já foi picado por cobra. Que o passado de inflação elevadíssima e o confisco da poupança ficaram impregnados na memória do povo e por isto as pessoas ainda acham que deixar o dinheiro parado em uma conta bancária é perigoso. Mas para mim há outros fatores mais fortes e evidentes.

Autoenganação

A principal desculpa para quem não poupa é a falta do que poupar. Falo isto com experiência própria. Lembro-me quando comecei a ganhar meus primeiros salários. Na época era o equivalente a meio salário mínimo. Tinha a plena convicção de que não precisava poupar nem um tostão daquele dinheiro. Como estava ainda no início da minha vida profissional e ainda viria a ganhar “muito dinheiro” então no futuro seria mais fácil guardar dinheiro. Só que na medida que o salário aumentava os gastos aumentavam na mesma proporção.

Aí que está a autoenganação, você jura para você mesmo que no futuro algo mudará, mas como esperar resultados diferentes se os hábitos continuam os mesmos? O hábito de poupar não deve ser condicionado à quantidade de recursos financeiros disponíveis. Hoje para mim é fácil falar e executar este conceito mas nem sempre foi assim. Para a maior parte das pessoas não é. Infelizmente não somos educados para agir desta forma. Muitos colocam a culpa no sistema de ensino que não possui disciplinas de educação financeira na grade curricular. Mas acho que este tipo de educação deveria vir do berço.

Gratificação Imediata

Todo mundo deve conhecer o teste do marshmallow. Para quem não conhece, trata-se de uma série de estudos de recompensa retardada realizados no final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970 na Universidade de Stanford. Nos testes era oferecido a crianças a escolha entre uma pequena recompensa (como um marshmallow) entregue imediatamente ou duas pequenas recompensas se ela esperasse até o retorno do pesquisador (depois de uma ausência de aproximadamente 15 minutos). Os pesquisadores concluíram que as crianças que foram capazes de esperar por mais tempo pela possível recompensa apresentaram tendência de ter melhor êxito na vida.

Conforme matéria publicada no blog Neurociências em Benefício da Educação, foi observado que as crianças que conseguiram resistir ao marshmallow apresentaram uma estratégia de desvio de atenção. Ao fechar os olhos, esconder-se debaixo da mesa ou cantar uma canção, essas crianças estariam tirando o foco da tentação. As crianças que empregaram as melhores estratégias de desvio de atenção conseguiram controlar seus impulsos de gratificação imediata tendo em vista uma maior recompensa no caso da gratificação postergada.

O estudo não demonstrava se as habilidades das crianças que postergaram a gratificação foram aprendidas ou eram inatas. Das crianças participantes, somente uma minoria comeu o doce imediatamente. E cerca de um terço das restantes conseguiu resistir à tentação durante os 15 minutos e ganhar o segundo marshmallow.

Em um posterior estudo de 1989 descobriu-se que as crianças que aos 4 anos de idade conseguiram postergar a recompensa, durante seu crescimento, mostraram-se adolescentes mais competentes tanto cognitivo quanto socialmente, alcançaram maior desempenho escolar e evidenciaram lidar melhor com a frustração e o estresse. Também, observou-se que mais tarde, estas crianças foram mais bem sucedidas na escola, nas suas carreiras, nos seus casamentos e na vida. Este simples teste tinha profundas implicações no mundo real, e isso é um dos fatos que o torna um dos mais famosos dentro da área psicológica.

Psicólogos consideram a capacidade de autocontrole e recompensa adiada como parte importante do que é chamada de função executiva, a função do lobo frontal, que é o controle do comportamento, onde estratégias de decisões de longo prazo demonstram controle sobre o comportamento de manter e atingir metas.

Na minha forma simplista de encarar a vida considero cada real na minha carteira como um marshmallow que posso comer agora ou deixar para comer depois. Colocando este  mashmallow na poupança poderei comer dois mashmallows em um futuro próximo.  Portanto, ao falar de poupança, estamos falando de gratificação postergada. O que está em jogo é o mero adiamento dos nossos desejos enquanto seres consumidores. O que de fato é muito difícil para a grande maioria dos seres humanos. Fomos programados, desde a barriga das nossas mães, para sermos consumidores. Desde a placenta estamos consumindo, consumindo e consumindo.

E como lidar com este desejo animal de consumir a qualquer custo? A resposta já foi dada pelas crianças que passaram no teste: desvio de atenção. Se você ficar encarando o marshmallow de frente provavelmente irá devorá-lo, a melhor estratégia seria então fazer de conta que ele não existe, rs. Como já disse o ditado: a melhor forma de se livrar de um vício é arrumar outro. Portanto, plantar árvores seria uma saída.

Importância da Poupança para a Economia do País

O gastador, no alto da sua benevolência para com a nação, pode argumentar assim:

“Eu consumo toda a minha renda sem dor na consciência pois assim estou contribuindo para alavancar a economia deste país. Ao contrário de deixar meu dinheiro parado no banco, prefiro gastar e consumir pois desta forma estou fazendo a economia girar. Se todo mundo parasse de consumir as empresas iriam falir pois não teriam para quem produzir.”

Acredite, muita gente pensa assim, eu mesmo já pensei assim. Mas onde está o erro deste pensamento? Para entender melhor a origem desta ideia precisamos recorrer a John Maynard Keynes. Para quem não conhece, Keynes  foi um economista britânico nascido em 1883 em Cambridge. Viveu até 1946 tornando-se um dos economistas mais influentes do século XX. O trabalho de Keynes é a base para a escola de pensamento conhecida como keynesianismo.

Segundo João Luiz Mauad, em artigo publicado no site Instituto Liberal, Keynes foi, sem dúvida, um pensador inteligente e influente. Talvez por isso mesmo, a escola criada por ele, seja tão nociva para o mundo atual. Para Mauad, de todas as teorias enunciadas por Keynes, a mais destrutiva e daninha é aquela que contrapõe poupança e consumo. A base dessa teoria é que os indivíduos, ao poupar seus recursos, estão contribuindo para prejudicar os níveis de renda agregada da economia (Paradoxo da Parcimônia).

“O crescimento da riqueza, longe de ser dependente da abstinência poupança dos ricos, como é comumente suposto, é mais provável que seja impedida por ela“, escreveu Keynes, em sua “Teoria Geral do Emprego, dos Juros e do Dinheiro”.

Graças a Keynes, é comum o pensamento de que o consumo – não a poupança, o investimento e a produção – é o motor da economia. Desta forma, os economistas “keynesianos” enfatizam que o que move a economia é o consumo. Para eles, a política econômica correta é aquela que estimula o consumo, através de crédito farto e barato para a população. Qualquer semelhança com a política empregada aqui no Brasil nos últimos anos é mera coincidência.

Poupança x Consumo

Em um primeiro momento pode parecer algo óbvio: mais consumo implica em maior demanda, e mais demanda gera maior produção. Já a poupança adquirida através da frugalidade e do consumo contido, seria a inimiga número 1 desta fórmula mágica.

Sim, se a população repentinamente decidir parar de gastar e desta forma passar a poupar boa parte da sua renda com a intenção de consumir apenas no futuro, isso obviamente terá certos efeitos sobre a economia da nação, uma vez que haverá menos demanda por certos tipos de bens e serviços. Mas o que isso pode gerar de benéfico no futuro?

Em artigo recente publicado no site Mises, os autores discorrem sobre esta questão que tem a ver com a verdadeira “função social” da poupança. Esta função, e sua importância para o desenvolvimento das economias, foi destacada pelo economista austríaco Eugen von Böhm-Bawerk, que escreveu em 1910:

Aquilo que todos conhecem como “poupança” tem, como consequência imediata, um lado negativo: o não-consumo de uma fatia de nossa renda. Ou, em termos aplicáveis à sociedade que utiliza o dinheiro, o não-gasto de uma porção do dinheiro recebido anualmente.

Mas é exatamente aqui que começa a parte positiva do processo da poupança, o qual irá se completar muito longe do campo de visão do poupador — cujas ações, entretanto, foram as que deram o impulso a toda a atividade que virá a seguir.

O banco irá recorrer a essa poupança de seus depositantes e irá emprestá-la para empreendedores de várias maneiras: empréstimos para a construção civil, empréstimos para a abertura de pontos comerciais, empréstimos para a ampliação de instalações industriais, empréstimos para a construção de fábricas, empréstimos para a contratação de mão-de-obra, empréstimos para capital de giro etc.

Em suma, sem a poupança não haveria investimento, e sem investimento as economias dos países não cresceriam. No entanto, vários oferecem resistência a esta ideia de que é necessário poupar argumentando que se todos os indivíduos decidissem poupar ao mesmo tempo, isso iria restringir a demanda por bens de consumo, levando a economia a uma forte recessão. A esta acusação Böhm-Bawerk respondeu de maneira magistral:

Nesta premissa — de que a poupança significa necessariamente uma redução na demanda por bens de consumo — está faltando uma única, porém muito importante, palavra: ‘presente’.

Para começar, o homem que poupa reduz a sua demanda por bens de consumo presentes, mas de maneira alguma ele reduz seu desejo geral por bens que lhe deem prazer. A “abstinência” gerada pela poupança não é uma abstinência absoluta, ou seja, ela não gera uma renúncia definitiva a todo e qualquer bem de consumo. Ele continua consumindo bens básicos no presente. Mas abrirá mão do consumo, no presente, de bens mais luxuosos. Mas tal renúncia não é definitiva. Ela é apenas uma postergação.

O motivo principal daqueles que poupam é precisamente preparar-se para o consumo futuro; ter meios com os quais suprir suas demandas futuras ou as de seus herdeiros. Isso significa, nada mais nada menos, que eles desejam garantir que terão controle sobre os meios que permitirão a satisfação de seus desejos futuros, isto é, sobre o consumo de bens em um período futuro.

Em outras palavras, aqueles que poupam reduzem sua demanda por bens de consumo no presente justamente para poderem aumentar proporcionalmente sua demanda por bens de consumo no futuro.

Na área de comentários do site Mises, um leitor, não satisfeito com a exposição de ideias, questionou: “mas se as pessoas não consumirem, para que investir e criar um sistema de produção em massa? O certo não seria um equilíbrio entre consumo e poupança?” Coube então ao autor uma resposta simples e direta:

O consumo é inevitável. Nunca há consumo zero. Consequentemente, nunca há problema de demanda. Por definição.

Demandar é algo que ocorre naturalmente; demandar é intrínseco ao ser humano. A partir do momento em que você sai da cama até o momento em que você vai dormir você está demandando coisas. Demandar coisas é o impulso mais natural do ser humano. É impossível viver sem demandar. Por isso, a ideia de que é necessário “estimular a demanda” é completamente ilógica. A demanda é algo que ocorre naturalmente pelo simples fato de sermos humanos.

Portanto, o problema não é e nem nunca foi “estimular a demanda”. O grande problema sempre foi criar a oferta. De nada adianta haver demanda se não houver oferta.

O que permite a oferta? A produção. E o que permite a produção? O investimento. E o que permite o investimento? A poupança. Fim.

Tendo entendido isso, você finalmente perceberá que “investir e criar um sistema de produção em massa” só é possível em sociedades poupadoras.

Outra coisa: sempre há aquelas pessoas que pouparam muito no passado e que hoje podem se dar ao luxo de gastar mais. Esse é um processo contínuo. Consequentemente, sempre há no presente gastos de pessoas que pouparam no passado.

Se você não percebeu, está se falando aqui de poupança hoje para consumo futuro e não simplesmente de abstinência permanente e contínua de consumo. É preciso internalizar isto: quanto mais poupança, maior a quantidade de recursos a serem emprestados. Quanto maior a quantidade de recursos, menores os juros dos empréstimos. Quanto menores os juros, mais viáveis serão os investimentos. Em suma: quanto maior a poupança, maior a capacidade de consumo futura da população.

E você ainda não está convencido de que a sua poupança beneficia a economia do seu país? Sim, o tema é polêmico. E para quem não lida diariamente com economia pode até se confundir pois ambas as ideias, por mais antagônicas que sejam, podem ser encaradas como corretas em um primeiro momento. É por estas e outras que dizem que a economia não é uma ciência exata e sim uma ciência humana.

 

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